Clarice

 Clarice - uma verdadeira outsider
genialidade insubstituível

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.

Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.

Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.

E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano.

Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.

O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.

O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. "Eu te odeio", disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia. Como cavar na terra até encontrar a água negra, como abrir passagem na terra dura e chegar jamais a si mesma?

E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar.

Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada.

É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.

E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço.

Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

Fique de vez em quando só, senão será submergido. Até o amor excessivo pode submergir uma pessoa.

Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.

Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.

É que por enquanto a metarmofose de mim em mim mesma não faz sentido. É uma metamorfose em que eu perco tudo o que tinha, e o que sou. E agora o que sou? Sou: estar de pé diante de um susto. Sou: o que vi. Não entendo e tenho medo de entender, o material do mundo me assusta, com seus planetas e baratas.

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


(Clarice Lispector)

5 comentários :

Vanessa Abe disse...

Olá!Meu TCC é sobre Clarice Lispector, adoreis eu post!Sou apaixonada por ela, os textos são incriveis...
Passa no meu blog http://outras-nuvens.blogspt.com
bjooos

R1B@5 disse...

Olá Abe, que legal o tema do seu TCC! Eu sempre adorei os pensamentos da Clarice, são muito bons, parabéns pelo tcc.
Obrigado pelo elogio
Abraço

Victor S. Gomez disse...

Clarisse é demais, tem de apreciada e respeitada. Abraços

Lex disse...

Muito bom o post. Clarisse é demais²

Anônimo disse...

concreto , não viaja fica em casa !

www.não é o que é , e sim resuma o aconteçeu , concreto firme chamado de chão , onde pisa todos os dias olhe para baixo , e quando estiver bem pode olhar para cima , legal ..........
, vou adicionmar um ponto de ajuda que li no livro de agusto cury , se tiver em algun lugar que não conheça , não procure explicações plausiveis diga - estava escuro e passei algumas horas neste lugar por que foi isso relamente que aconteçe . ponto

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