2. Sabe aquele amigão que por algum motivo leva uma vida distante da sua? Em vez de enviar um email com o clássico “mande notícias”, escreva você mesmo as novidades da sua vida e compartilhe seus insights com ele. Ele se sentirá muito mais confortável em “mandar notícias”.
3. Quando os outros colocarem você contra a parede com críticas diretas ou indiretas, junte-se a eles. É muito desgastante tentar se defender, se justificar ou apelar para o revide, enquanto ajudar na acusação contra você mesmo pode até se tornar algo engraçado. Sem contar que, ao usar a lógica do ataque (que sabe ver furos em qualquer defesa), você aprenderá muito sobre suas próprias fixações.
4. Sempre que conseguir, trate você mesmo como um outro, nunca como você mesmo. Isto chama-se leveza.
5. Crie vínculos com as qualidades positivas de cada pessoa. Em vez de focar no que ela tem de ruim e estabelecer relações com suas negatividades (usando provocação, raiva, inveja, aversão, fala inútil, indiferença), tente se conectar com o que ela possui de melhor, por meio de relações virtuosas. Promova o outro, eleve o outro com seu olhar. Celebre o outro com sua presença, rindo, brincando, se confessando, ouvindo, cantando com ele.
6. Não leve tanto o outro a sério e, principalmente, não se leve tanto a sério.
7. Essa é difícil, mas quando acertamos a mão sabemos na hora que não há comunicação mais deliciosa: não fale para o outro, fale de dentro do outro. Deixe que sua voz saia de dentro do corpo do outro, deixe que suas idéias não sejam sequer suas, que sua fala seja a dele. Um bom conselho sempre vem daí. É o outro falando pra si mesmo por meio de você.
8. Participe da vida dos outros em um nível no qual você possa aprender com seus erros e acertos. Afinal, hoje em dia aprendemos tanto ou até mais com as vidas dos outros do que com a nossa própria. Se dependêssemos só dos nossos erros, demoraríamos muito para nos desenvolver. Isso porque perdemos um longo tempo cometendo um só erro! Dez anos e um só aprendizado é muito pouco, não?
9. Não há rascunho nem retoque. Viva sem acreditar em segundas chances.
10. Diante de várias opiniões, interpretações, visões de mundo ou filosofias radicamente diferentes, não se pergunte qual é a correta. Tente encontrar o espaço de onde todas surgem e no qual todas são naturalmente validadas e acolhidas, porém criticadas em seus limites e obstáculos. Só assim seu diálogo com os seres fixados nestas visões será virtuoso. Cito Ken Wilber: “the only really interesting question is not why poststructuralism is right and structuralism is wrong, but what kind of universe allows both of those practices to arise in the first place?”.
11. Saia de dentro de sua cabeça: sua mente é bem maior do que isso. Somos capazes de passar um dia inteiro vivendo dentro de nossas cabeças, bem atrás de nossos globos oculares. Não estabelecemos contato real com os seres ou objetos ao nosso redor. Sequer pisamos verdadeiramente no chão, pois ficamos suspensos, a mais de um metro do chão, presos em nossas cabeças. Experimente um dia levar sua mente para passear!
12. O único modo de alguém lhe aprisionar é fazê-lo acreditar que você tem algo a perder, e assim mantê-lo sob controle, com medo. Pense na pior coisa que poderia acontecer com você… Ficar tetraplégico, cego, surdo? Em coma? Perder as pessoas que ama? Em todos estes casos, você ainda estaria vivo. O pior que pode nos acontecer é a morte. Podemos então ficar despreocupados, sabendo que ela é a única coisa certa em nosso futuro. Tudo o que vier antes é lucro. Lembre-se sempre de sua morte e viverá com a certeza de que você não tem absolutamente nada a perder. Mais ainda: sem nada a perder, não há coisa alguma a conquistar ou ganhar, o que deixa todo o nosso tempo livre para podermos alegremente oferecer o que temos aos outros. Por um percurso improvável, ainda que curtíssimo, a percepção existencial da própria morte nos conduz a uma vida ética e compassiva.
13. Faça amor com suas neuroses. Sinta-se em casa com os problemas das pessoas. Eles não te pertencem, e muito menos a elas. Trate toda a sujeira do mundo como impessoal: confusão genérica. Não tente ajudar. Apenas mantenha a sua própria postura.
14. Devemos calar a boca imediatamente se durante uma discussão esquecermos que temos dois pés. É muito comum começarmos a falar e a nos relacionar de modo desincorporado, como se estivéssemos acima de nossas próprias cabeças. Nossos pés, ao contrário, estão sempre ali, quietinhos, mansos, curtindo uma maliciosa observação das confusões aéreas. São incapazes de orgulho, livres do sentimento de humilhação e da identidade da vítima – já deitados, derrotados, estão além da derrota. Sempre em contato com o chão, silenciosamente contemplam os outros pés e fundam seus relacionamentos na quietude da terra. Enfim, tudo isso para dizer: “baixe o nível” em todas as suas relações!
15. Sejamos suaves diante da vida. Sejamos suaves a cada momento… Não perturbemos o silencioso e constante fluir dos instantes – um atrás do outro, perfeitos em si mesmos. Sejamos atentos a isso. Sejamos suaves.
16. Se quiser atravessar as paredes dos outros, dissolva as suas. É uma lógica nonsense, eu sei: as paredes só existem em primeira pessoa. Perscrute e desconstrua um a um todos os seus vícios, hábitos e crenças, até que cada ação brote direto da liberdade básica que é nosso solo comum. Nossos condicionamentos não são nossos. A raiva que surge aqui é a mesma que move sua mão aí. Estamos todos expostos e nus o tempo todo.
17. Quando tudo dá errado, nossa reação corporal mais imediata é uma expiração: “Bfff… Que merda!”. Faça ao contrário, quando puder. Inspire a dor, entre nela e olhe tudo detalhadamente. Faça a dor circular dentro de seu corpo e mantenha os olhos bem abertos. Se reagimos e nos fechamos, as saídas se tornam ainda mais invisíveis. O lance é ficar aberto, sempre. Ah, faça isso também com a dor do outro.
18. Para efetivamente ajudar alguém, não dê nada. Abra espaço para que o outro ofereça algo a você. Diante de um mendigo, dar comida pode ser bom, claro. Imagine, porém, pedir para que ele conte uma história e ensine algo para você. Seus olhos vão brilhar, ele se sentirá valorizado com sua experiência legitimada, apreciada. Ele sentirá a alegria de fazer alguém sorrir, de tocar alguém. Ora, nós mesmos não adoramos quando nossa experiência é valorizada e somos convidados a ensinar? Ofereça essa oportunidade a todos que encontrar. “Ah, mais isso não funciona, ele continuará miserável”: talvez isso seja verdade, mas reconhecer nossas próprias habilidades não é o primeiro passo para conseguir um trabalho remunerado?
19. Trabalhe e use suas habilidades dentro de um sonho coletivo. Se sua motivação for restrita ou se o projeto beneficiar apenas você ou pouquíssimos seres, em breve sua energia se esgotará.
20. Viva com certezas. Deixe o “talvez” apenas para uso poético. Caso contrário, nunca conseguirá expô-las para debate ou esmagá-las com a vida. Não há nada mais tedioso do que alguém em cima do muro! Se escondemos nossas certezas, é possível passar anos sem mudar. Perda de tempo. Afirme com vigor sempre, mesmo que seja para concluir com uma dúvida, uma incerteza, uma pergunta. Pelo caminho do teste empírico de todas as certezas, chegaremos à liberdade sem certezas, ao movimento livre em todas as direções.
21. Aprenda a mostrar as cartas e bater com a mão na mesa: “Let’s get real!”. Relações medíocres só se sustentam enquanto seguramos as cartas somente por uma justificativa estúpida: o outro também está segurando. Estamos todos buscando a mesma coisa. Ele deseja o que você deseja. Você quer justamente o que ele quer. Abra logo as cartas para que o verdadeiro jogo comece.
(retirado do site "http://nao2nao1.com.br/") Obrigado!
Um comentário :
Muito bom !!!!
Com certeza aprendi bastante.
Obrigado. =)
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