Sésamo

Sésamo

Eram em quatro aquela família, uma simples porém amorosa e unida família. Um pai, uma mãe e seus dois filhos gêmeos. Tinham um sítio com árvores frutíferas e um galpão. Nesse galpão havia um cadeado prendendo suas pesadas portas, como um guardião de um tesouro e segredos, firme e imponente em sua função. Estava lá há três gerações na familia e tinha sido apelidado de "Sésamo", por sua referência ao famoso local onde haviam enormes tesouros roubados.

Em uma noite chuvosa, beirando a madrugada, o pai saiu para fumar, como fazia todas as noites. Porém, dessa vez se dirigiu ao galpão. Abriu o cadeado proferindo "Abre-te Sésamo", como tradição e costume da família, lá dentro tirando de um bolso falso uma carta. Como estava seguro, a leu em voz alta, o que o deixou em êxtase! Depois de um tempo se acalmou, respirou fundo, queimou a carta e fechou as portas, trancando o cadeado no caminho de volta para os braços de sua esposa.

Duas semanas depois, os gêmeos se encontravam correndo despercebidos, "Abre-te Sésamo", adentrando o seguro galpão. Eles haviam colhido amoras, pitangas, laranjas e uvas. Sua mãe lhes dizia para comer doces somente após o almoço, mas "Só dessa vez", pensaram em suas mentes compartilhadas de gêmeos. Lavaram os rostos vermelhos, trancaram o galpão e  foram almoçar mais felizes naquele dia.

Era época de chuvas, raios e trovões no céu a semana toda. Mal sabiam seus filhos e amado esposo que a mulher estava preparando uma surpresa para o Natal. Presentes escondidos sob o feno e atrás das rodas de antigas carroças. "Abre-te Sésamo" proferiu gentilmente a mulher, com o sorriso no rosto, pensando em tantas alegrias que seus fiéis amados teriam.

Dia seguinte amanheceu sem chuva, um dia perfeito para entregar os presentes. A mãe disse aos pequenos "me encontrem no galpão assim que anoitecer, faremos um picnic". "Tenho uma surpresa hoje a noite, amor" disse carinhosamente ao esposo fiel e tão amoroso. Uma hora antes do combinado levou os utensílios, bebidas e comidas gostosas para o galpão. "Abre-te Sésamo" ouviu o cadeado e assim o fez, se abrindo para a mulher e sendo trancado rapidamente, para evitar curiosos.

Dado o horário combinado, o pai e seus dois clones curiosos foram em direção ao galpão. No céu escuro, uma chuva começou a se formar, deixando ainda mais negro o céu noturno. Ventos lancinantes assolavam os rostos dos pequenos. O pai então voltou para dentro da casa para pegar guarda-chuvas e agasalhos, para se deparar com uma súbita tempestade acontecendo na volta! Saíram correndo até o galpão, em meio a ventos fortes, trovões de doerem os ouvidos e chuva que fazia não se ver a um palmo a frente.

"Abre-te Sésamo!" gritou o pai. Mas o cadeado não abria. "Abre-te Sésamo" bufaram os gêmeos já desesperados com aquela bagunça toda. E nada. "Abre-te Sésamo!!!" rugiram os três já raivosos e encharcados, segundos antes de um raio enorme acertar o galpão em cheio, entrando em chamas por causa de todo feno e madeira ali existente. "Abre-te Sésamo" gritaram sem parar a família, enquanto lá dentro se ouvia os gritos de desespero da mulher, abafados pelos trovões da noite chuvosa. Horas depois, chegavam no sítio os bombeiros e a familia em prantos, o galpão em ruínas e o cadeado Sésamo permanecia intacto em sua dignidade e fiel à sua missão de deixar de fora os indignos àquele tesouro.

[by LuizCRibas]

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